Cruzeiro da Fé - Parte II (Final)

O navio partiu e tudo parecia normal (se é que existe alguma coisa normal num cruzeiro como este). Enfim chega a hora do primeiro jantar e todos estarão reunidos para uma confraternização à beira da piscina. Quando todos estavam presentes, decidi fazer um discurso inicial.
"Bem vindos ao nosso jantar de confraternização (já comecei mal, eu sei).
Conforme vocês solicitaram, as mesas foram alocadas de acordo com a preferência de cada um. Os indianos e os vegetarianos estão estrategicamente localizados bem longe do que chamaram de "churrasqueira da morte". Aos vegetarianos extremistas, informo que não será servido a vocês nada que um dia foi vivo. Aos adventistas do sétimo dia, teremos uma ala com isolamento acústico para que não ouçam o som pecador que estará tocando nessa sexta a noite aqui na piscina.
Agora gostaria de ouvir a opinião de vocês sobre o andamento de nosso Cruzeiro da Fé. (nesse momento, umas 150 pessoas levantaram a mão para meu total espanto. Um deles pegou o microfone e foi logo falando):
- Escuta aqui, eu sai pra tomar um banho de piscina e quando voltei tinha uma galinha morta numa tigela de barro bem na porta da minha cabine, se eu pegar o filho da puta que fez isso eu vou quebrar a cara desse macumbeiro de uma figa. (todos gritam)
Eu: Senhores, vamos nos acalmar, como sabemos estamos aqui para promover a paz de Deus, Alah, Buda, Shiva, Geová, etc, etc. (outro pega o microfone)

- Eu também tenho uma reclamação, eu sou padre e pedi pra ficar na mesma cabine que um seminarista, mas me colocaram com um pastor hetero casado de 39 anos que ronca a noite, cadê o menino de 17 anos que eu pedi? Nada contra, é que eu prefiro um seminarista para poder explicar a palavra da bíblia...
Eu: Senhor, vou verificar o que houve e providenciar um garotinho pro Sr, ok Michael Jackson! Sem preconceito!
- Sem preconceitos uma ova! Eu estava beijando carinhosamente o Nandão na piscina e todo mundo ficou olhando. Qual o problema nisso? (outro padre)
Eu: Padre, eu também não vejo problema alguma, mas nesse caso ligue para o Vaticano e resolva com o Papa!
- E eu pedi carne de cachorro pro jantar e não me serviram! (um qualquer)
Eu: meu senhor, infelizmente no Brasil é proibida a comercialização de carne de cachorro (nesse momento sou interrompido por uma mulher aparentemente nervosa).
- O meu poodle sumiu hoje a tarde, só pode ser por causa desse maldito comedor-de-cachoro-indefeso! (ricaça zen)
- Eu não peguei poodle nenhum! Não como carne de cachorro de viado! (um qualquer)
Eu: Senhores, calma! Minha Senhora, seu cachorro foi localizado e está pendurado na seção "Achados e Perdidos"
- Alaham mahan sahim tahim
Eu: Vai você cara!
- Eu me recuso a ficar no mesmo navio que gente que faz vudu! Eu encontrei diversos bonecos espetados no meu Deck! (Grita uma ativista evangélica)
Eu: minha senhora, todos têm o direito à liberdade de expressão, estamos num país livre, sem preconceitos.
- Inclusive tinha um boneco que era você, Sr Organizador, e tinha mais de dez agulhas.
Eu: QUEM FOI O MALDITO? Porque você não enfia a agulho no seu c*? Ou enfia na tua mãe!
- Olha, quem liga pra vudu? Preciso fazer diversos trabalhos e todas as galinhas acabaram, o que eu faço?
Eu: Usa sua mãe! Mata a velha e coloca na encruzilhada! Se ela for branca é só usar um spray preto que tudo se acerta palhaço!
(nesse momento começa um empurra-empurra e os seguranças tentam me proteger)
Um homem bomba explode no fundo do restaurante, devastando metade das pessoas sentadas por lá.
Eu: Bem feito! Tomara que essa merda de navio afunde e todos vocês poderão rezar pessoalmente com Deus, Alah, Buda e com quem quiserem!
Começou o maior quebra-quebra! Era galinha voando pra um lado, crucifixo pro outro, gente explodindo e gente rezando! Alguns pulavam na água pra escapar dos homens-bomba enquanto outros assanhados tentavam tirar a burca da ala do Afeganistão.
Nessa zona toda, peguei um bote e sumi dali....
Horas depois fiquei sabendo do naufrágio.... e fui rezar para me livrar de meus pecados.